segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A importância das Doulas

Em referência às críticas a uma possível "intervenção das doulas" nas condutas médicas nas maternidades brasileiras, creio que é importante suscitar uma reflexão sobre este tema e, a partir dela, melhorarmos o trabalho que estamos fazendo na formação e na utilização das doulas como grandes propulsoras da humanização do nascimento.

As doulas recebem treinamento de profissionais de saúde com larga experiência na atenção às mulheres gestantes. O foco do trabalho das doulas é a grávida, e não o parto propriamente dito.

Ela não realizam (e não são instruídas para tanto) qualquer procedimento de caráter médico, diagnóstico ou terapêutico, e nenhuma ação de enfermagem, como verificar a pressão, escutar batimentos fetais, avaliar temperatura ou batimentos cardíacos maternos.

Doulas não estão autorizadas, muito menos estimuladas, a oferecer qualquer medicação às pacientes, seja esta alopática, homeopática ou fitoterápica. Elas são ajudantes da mulher e sua ação serve para auxiliá-las a vencer os desafios do trabalho de parto. Não cabe às doulas qualquer ação que se confunda com a prática médica.

Doulas são preparadas para auxiliar as mulheres, os médicos e os hospitais, oferecendo às gestantes e ao seu companheiro a necessária tranquilidade durante o nascimento. Doulas não interferem em condutas médicas e não fazem recomendações de caráter diagnóstico.

Por outro lado, inúmeros estudos comprovam que, quando a doula está presente, até mesmo as analgesias se tornam menos frequentes e menos necessárias, pois o aporte afetivo, psicológico, emocional, físico e espiritual que elas oferecem ajuda as parturientes a perceberem o sentido benéfico das dores pelas quais estão passando. Essa compreensão dos objetivos do processo de parto faz com que tais dores sejam suportadas de forma muito mais fácil, a ponto de dispensarem as analgesias e mesmo as cesarianas em muitas ocasiões.

Por fim, as Doulas são comprovadamente benéficas, em diversos estudos realizados e em várias partes do mundo. Doulas são recursos baseados em evidências científicas atualizadas e tal comprovação pode ser encontrada na Biblioteca Cochrane de medicina baseada em evidências, em determinações da OMS (Organização Mundial da Saúde) e do Ministério da Saúde do Brasil.
 Ricardo Jones

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Mezinhas na gravidez

A Micas tinha no seu blog (http://doulatoula.blogspot.pt) este post sobre mezinhas na gravidez.

Amei!! Grata Micas Mariana!

Ver aqui.

http://consequentemente.wordpress.com/2008/03/05/mezinhas-para-a-gravidez/#comment-89

Chuchas: sim ou não?

O uso de chucha está amplamente divulgado na nossa cultura, ainda o bebé não nasceu... já tem uma chucha....

Mas o bebé não precisa de chucha pois a necessidade de sugar é satisfeita quando realiza a sucção do peito da mãe. Ouvimos muitas vezes a frase "está a fazer o peito de chucha!" Eu pergunto, como é possível... antes de inventarem a chucha já havia o peito...logo os bebés podem é fazer a chucha de peito!!!

A única maneira do bebé comunicar é chorar. Chora quando está com a fralda suja, com fome, com sede, com sono, quando quer carinho ou mesmo quando está feliz. O melhor é que a mãe tenha paciência para descobrir o que seu bebé quer e não simplesmente oferecer uma chucha que o deixará quieto por alguns instantes e não satisfará a sua necessidade de verdade. Ao estar a colocar uma chucha a um bebé que chora estamos a impedir a sua comunicação.

O uso da chucha pode levar ao desmame precoce. O bebé pode deixar de sugar no peito por causa da chucha. Isso acontece porque a posição da língua na amamentação é diferente da posição chucha.

Como sugar a chucha é mais fácil, na hora da amamentação o bebé colocará a língua na posição da sucção da chucha e não conseguirá retirar o leite, chorando de fome e rejeitando o peito.

O leite do peito é o melhor alimento para o seu bebé, contém todos os nutrientes necessários além de ser uma “vacina” (ajuda na formação do sistema de defesa do bebé). A sucção da chucha deixa os músculos das bochechas, lábios e língua flácidos, sem força, não sendo benéfico na mastigação e deglutição.

O desenvolvimento da fala pode ser afectado já que a criança não terá força na musculatura para executar alguns sons.
Outra consequência que a chucha traz é a alteração da arcada dentária como a mordida aberta e a mordida cruzada. A criança fica com os dentes tortos, contribuindo ainda mais para a dificuldade de mastigar, deglutir e falar.

O simples uso da chucha pode trazer outros malefícios à criança futuramente. A respiração é outra função que também se altera. O uso da chucha faz com que a criança respire pela boca. A respiração oral ocasiona alteração de postura, sono agitado, com ronco.

Favorece o aparecimento de otites. Estudos recentes demonstraram que as otites do ouvido médio são mais frequentes nos bebés que usam chupeta continuamente.

Mas também tem benefícios - Reduz o risco de síndrome de morte súbita do lactente (SMSL) e pode evitar o "chuchar no dedo". O hábito de sugar o dedo pode ser prejudicial para o desenvolvimento dos maxilares, promovendo o padrão anteriorizado da língua entre as gengivas ou dentes, causando deformação na arcada dentária e alteração da produção de sons.

Antes de oferecer a chucha, os pais devem pensar nas consequências e benefícios que isso trará para o seu bebé. A decisão é sempre vossa, claro.

Fonte: http://gravidasemforma.blogspot.pt/search/label/chucha

doulas


domingo, 3 de fevereiro de 2013

O porquê da dor...

A dor do parto é universal: dói dar a luz. Já que esta é uma experiência tão comum, isto poderia ser visto como algo reconfortante, um elo entre as mulheres, uma verdade fundamental que confirma nosso papel biológico especial e afirma a importância de nossa contribuição para a sociedade. Com freqüência, entretanto, esta dor é vista como um agouro, uma imposição desnecessária, uma aflição que devemos suportar como o preço por termos filhos.

Esta visão, sustentada pela percepção de que a dor é um sintoma de males e doenças, permitiu que os médicos homens nos convencessem de que a dor é dispensável durante o parto, e que ela não tem nenhum valor, um mal a ser curado com tratamentos modernos e tecnologia. Esta visão da dor do parto como uma aflição parece prevalecer mais entre as mulheres ocidentais. Em muitas culturas, a dor do parto é aceita como necessária, uma parte desconfortável do parto, e não é vista como um problema insuperável. Talvez o fato de que estas mulheres são geralmente cuidadas por outras mulheres, que entendem o parto e seus benefícios misteriosos para a psique feminina, seja a razão central pela qual a dor não é temida, mas aceita. A forçosa mudança do parto dos lares para o hospital estabeleceu o parto como um ato médico e a pronta disponibilização de drogas e tecnologia em hospitais encorajou seu uso (Wagner 1994).

As mulheres, com freqüência sem a companhia de pessoas que possam lhes fornecer suporte com bons conhecimentos, e em situação vulnerável por seu estado emocional e hormonal, estão prontas para aceitar mensagens sedutoras dadas por "experts" de que a dor do parto não tem benefícios. Muitos destes "experts" são homens que tem uma visão biológica diferente das mulheres como resultado de informação reprodutiva masculina. Como os homens jamais darão à luz, eles não têm necessidade de instintos de parto inatos, e, portanto, não podem ter um profundo senso de intuição e entendimento do processo de parto. Talvez isto explique porque os homens com freqüência se sentem desconfortáveis ao redor de mulheres em trabalho de parto - eles são incapazes de se conectar com o processo num nível instintivo. Desconfiança e medo podem ser criados em tal clima.
Então, se há dor no trabalho de parto, qual é seu propósito, e como podemos nos beneficiar dela?
De onde vem a dor?

A fonte básica de dor durante o trabalho de parto é ação que está acontecendo no colo do útero. O útero possui nervos sensoriais que apenas registram dilatações e lacerações. Uma laceração significa uma ruptura uterina - um evento muito raro, mas que representa risco de morte para o qual um sinal claro é necessário. A dilatação do colo do útero é a ação primária durante o trabalho de parto, e indica que o parto está acontecendo. O grau variável de dilatação e o grau variável de dor resultante são um mecanismo para a mulher para que ela saiba o quanto o trabalho de parto avançou.


Como o útero está cercado de outras estruturas dentro do abdômen, pode haver mensagens de nervos sensoriais, algumas vezes dolorosas, de outras fontes, tais como pressão sobre a bexiga cheia ou a compressão de um nervo devido à posição da cabeça do bebê. Estas fontes de dor têm uma qualidade diferente e estão geralmente presentes entre as contrações, indicando algo a mais que precisa de atenção.


Endorfinas

A necessidade biológica para a dor no trabalho de parto é mediada pela capacidade de o corpo produzir endorfinas nos momentos de stress físico agudo. Este fenômeno é bem conhecido entre atletas e aqueles que fazem exercícios aeróbicos regulares. Os efeitos benéficos e a natureza protetora das endorfinas são úteis para melhorar a performance, já que elas são similares aos opiáceos em sua estrutura química e ação, e têm a habilidade de causar dependência naqueles que experimentam a liberação de endorfinas com frequência.


As endorfinas oferecem vários benefícios para as mulheres grávidas e em trabalho de parto:
• Elas são analgésicos naturais, produzidas em resposta ao trabalho pesado da gravidez e o stress das contrações uterinas.
• Comportamentos de introversão são encorajados, úteis para a auto-consciência e proteção.
• Elas criam uma sensação de bem estar e promovem sentimentos positivos.
• Elas podem ser um importante elo na ligação mamãe-bebê - criando um clima emocional positivo para o primeiro encontro com o bebê.
• Os sentimentos de conquista e satisfação com o parto aumentam a confiança e a auto estima.
• O efeito amnésico das endorfinas permite que as mulheres esqueçam as piores partes do trabalho de parto dando um incentivo para que se reproduzam novamente.
• Elas oferecem uma recompensa natural para o esforço envolvido em parir.

 

Da perspectiva do bebê, as endorfinas também podem ser importantes, assegurando que a mãe está se sentindo positiva e nutriz quando eles se encontrarem pela primeira vez. Os hormônios produzidos no corpo do bebê em resposta ao trabalho de parto (noro-adrenalinas) são importantes para a sobrevivência imediata de todos os bebês, assegurando que eles sejam capazes de manter o calor corporal e respirar corretamente, devido à produção adequada de surfactant. Além disso, as pupilas do bebê dilatam e exibem um comportamento bem alerta - ambos muito importantes para atrair e manter a atenção exclusiva da mãe (Lagercrantz & Slotkin 1986).
 

As endorfinas são os analgésicos naturais da natureza, com inúmeros benefícios extras para as mães e os bebês. Elas são liberadas em reposta ao trabalho e esforço do trabalho de parto, e especialmente quando a dor está presente. Portanto, as mulheres precisam primeiro do trabalho de parto e a dor das contrações para assegurar que elas consigam as endorfinas de que precisam. Sem estes fatores, as endorfinas não serão produzidas e a mulher não só sofrerá durante o trabalho de parto, mas poderá estar num estado aquém do ótimo para receber seu novo bebê. O processo de ligação com o bebê, geralmente considerado como um bom "extra" em um bom parto, é na verdade crítico para o sucesso reprodutivo e é garantido por várias interações hormonais.
Fonte: 

O que é uma doula?


Nos últimos anos, surgiu no cenário de parto uma nova figura: a Doula. São mulheres que acompanham outras mulheres (e sempre que possível os casais/famílias) durante a gravidez, o parto e o pós-parto. As doulas recebem formação específica sobre este acompanhamento e a sua acção centra-se no apoio emocional e informativo (sempre baseado em evidências cientificas). Não praticam actos médicos e a sua função não pretende substituir nenhuma outra já estabelecida no parto, nem dos técnicos nem do pai.
O parto é um acontecimento natural e fisiológico, mas nas últimas décadas passou a ser olhado como uma patologia, centrado na acção médica e hoje temos como consequência, entre muitas outras coisas, uma taxa de cesarianas muito superior ao recomendável pela Organização Mundial de Saúde (mais do dobro nos hospitais públicos e cerca de 4 vezes superior ao recomendado nos hospitais privados). São cada vez mais as mulheres que tomam consciência de todo o processo de parto como não satisfatório, sentindo-se muitas vezes desrespeitadas, desvalorizadas, tomando o nascimento como um “mal necessário” a acontecer num ambiente hostil, cheio de intervenções, assumindo o papel de figurante em todo este “filme”.


No ritual de passagem que é o parto, é importante a mulher redescobrir a sua essência, olhar a sua força e determinar em si o acto de dar à Luz em todas as suas dimensões. Para que este resgate consciente possa acontecer, o parto tem que ser encarado como um evento naturalmente humanizado – onde a mulher e o bebé são protagonistas da sua própria história, respeitados nas suas necessidades e apoiados pela intervenção técnica que for necessária. É urgente que seja honrado o tempo da vida, reconhecendo que cada mãe e cada bebé são únicos e que o parto e o nascimento está muito além da manifestação física ou psicológica, é um evento profundamente emocional, sexual e espiritual. Se não é vivenciado de forma holística, nalgum momento se sentirá a fragmentação da experiência.


O trabalho da doula inscreve-se neste panorama da humanização do parto, ajudando a percorrer um caminho de responsabilidade, a encontrar ferramentas para que a grávida, ou o casal, possam tomar opções conscientes com base em informação cientifica. A doula ajuda a grávida a conectar-se como mulher, a encontrar a sua força, confiança e a acreditar em si mesma, na sua capacidade inata de gerar, parir e de nutrir o seu filho.
Os benefícios da presença de uma doula durante o trabalho de parto são comprovados por diversos estudos, onde são evidentes o aumento da satisfação das mulheres relativamente à sua experiência de parto e a diminuição do número de intervenções médicas desnecessárias.


A palavra doula vem do grego e significa “serva”, isto é uma mulher que presta serviço a outras. Longe de ser um conceito de subserviência, a Doula, é uma figura maternal, de protecção, que está ao lado da mãe para a ouvir, proteger, apoiar e responder às suas necessidades. Por tudo isso, se diz que a doula é uma “mãe para a mãe”. O apoio de uma doula vem antes de mais do coração e da sua sabedoria interior. É esta a sua principal ferramenta de trabalho, porque mais do que saber fazer, uma doula tem que saber estar ao lado da mãe com quem partilha o milagre do nascimento.

Fonte: Carla Silveira

Entrevista a Laura Gutman

Durante os primeiros dois anos de vida, os bebés refletem as emoções e os sentimentos inconscientes das suas mães.
 
Um tempo de revelações, de experiências místicas, uma oportunidade para o auto conhecimento, para mergulhar nos aspectos ocultos da psique feminina. Um tempo em que as luzes e sombras emergem e explodem como um vulcão em erupção. É a loucura indefectível e um “não reconhecer-se” a si mesma, porque, desde o momento do parto, a alma da mulher se desdobra e se torna mamãe-bebê, bebê-mamãe ao mesmo tempo.
Isso é também a maternidade, segundo a inovadora e certamente polêmica visão da psicoterapeuta familiar argentina, especializada em crianças, Laura Gutman, autora do livro “A maternidade e o encontro com a própria sombra”.
Seu livro, longe de pretender ser um guia para mães desesperadas, é um convite para que as mulheres repensem as idéias preconcebidas, os preconceitos e os autoritarismos, encarnados em opiniões discutíveis sobre o parto, os cuidados com os bebês, a educação, as formas de vincular-se e a comunicação entre adultos e crianças.
 ver entrevista em

Parto pelo Mundo





amor de mãe

"Tu, por favor, não me faças uma coisa dessas... Nem ponhas a hipótese de ter um parto em casa... Pensa no teu filho..."
- disse-me, um dia, um amigo.

"É precisamente por estar a pensar nele, que pondero fortemente esta possibilidade." - respondi.

FOTO:

transFORMA-TE!!

Para a mulher, o parto é um momento marcante e único, mesmo que já tenha parido muitas vezes! É um rito de passagem, uma possibilidade de amadurecimento, um momento de superação, um exercício profundo de entrega à sabedoria do corpo, à natureza.

O movimento pelo parto humanizado propõe que a mulher seja respeitada como protagonista no seu parto, que tenha liberdade de movimentos, e não receba intervenções desnecessárias (entre outras).

Quando isso acontece, a mulher transforma-se! Fica mais realizada e confiante. Essa confiança segue com a mulher pela maternidade e por toda a sua vida.

SE A MULHER QUISER A GRAVIDEZ, O PARTO E A MATERNIDADE PODE SER UM MOMENTO DE AUTO-CONHECIMENTO PROFUNDO... PODE SER UM CAMINHO SAGRADO E ESPIRITUAL!

Catarina Pardal

birth breathe




Então, não aprendemos a respirar?

Esta é a questão que mais me colocam nas minhas sessões de preparação para o nascimento.

Ainda há muitas mulheres que acreditam na necessidade de aprender a respirar para o trabalho de parto como se não o soubessem fazer naturalmente.

O Lamaze Institute, que divulgou amplamente esta técnica durante vários anos (que conhecemos em Portugal por método psicoprofiláctico), vive actualmente uma época de pouca aceitação a nível internacional, exactamente pela imagem de uma preparação para o parto focalizada na respiração.

No entanto, no seu último guia The Official Lamaze Guide, fala-se mesmo de repensar a respiração e relaxamento. Neste guia, a mulher é convidada a encontrar a sua própria respiração consciente, e a procurar outras formas de se manter activa para lidar com as contracções: andar, dançar, massagens, bolas de parto, baloiçar, etc. Resumindo, respirar já não é o ensino ou a prática, do Lamaze Institute.

No entanto, em Portugal, o método Lamaze utilizado nas preparações para o parto continua a ser focalizado na respiração.

O que diz M. Odent - "Assim, Lamaze, obstetra francês, pai da psicoprofilaxia ocidental, dizia e escrevia que uma mulher deve aprender a dar à luz tal como aprende a andar, a ler ou a nadar. Estas indicações despistaram o mundo inteiro, e com o tempo, resultaram numa crise. (…) Foi assim que gerações de mulheres gestantes foram preparadas para o parto. A interpretação do processo de parto como um processo involuntário que põe em marcha as estruturas ancestrais, primitivas, mamalianas do cérebro, pressupõe desfazer a ideia aceite de que uma mulher pode aprender a parir. Esta interpretação permite, inclusive, compreender que não se pode ajudar activamente uma mulher a parir. Não se pode ajudar num processo involuntário. Somente se pode evitar perturbá-lo demasiado."
In Michel Odent, El bebé es un mamífero, 1990.

Infelizmente, nos Hospitais/Maternidades ainda ouvimos:

"Encha o peito de ar, feche a boca e agora faça FORÇA!"

Frase conhecida pela maioria das mulheres que já passou pela preparação para o parto pelo método psicoprofiláctico (ou por um parto vaginal ).

Este tipo de respiração tem tecnicamente o nome de Manobra de Valsalva.

O que dizem as evidencias cientificas da utilização desta manobra no parto?

VER AQUI


Se experimentar encher o peito de ar, fechar a boca e fazer força, independentemente da posição em que estiver, consegue perceber que o efeito gerado é o contrário ao que o corpo necessita (o períneo é contraído em lugar de descontrair).

Então porque é que ainda se ensina a respirar para o parto, então porque é que as nossas maternidades ainda usam a manobra de Valsalva?

Ao escutar-se os sons e gemidos emitidos pelas mulheres livres durante a fase de expulsão do bebé, facilmente os confundimos com os sons de satisfação de uma relação sexual amorosa. Quantas mulheres aceitariam ter aulas de preparação sexual em que lhe fosse ensinado como respirar e agir no momento de um orgasmo?

Nós, mulheres, temos de recuperar a confiança na nossa capacidade inata de parir, escutando os nossos instintos, em vez de esperar por ordens externas.

Aos profissionais compete actualizarem-se com base em evidências científicas e deixar o parto fluir naturalmente no seu processo fisiológico.

O período expulsivo fisiologicamente funciona e não necessita de ser dirigido por técnicas respiratórias.

Fonte: Catarina Pardal

Tabela dos Percentis

A "tabela dos percentis" que está em todos os boletins de saúde  vai mudar. O Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil prevê a adopção das curvas de crescimento propostas pela Organização Mundial de Saúde.

 

Já que falamos em "pesar bebés" NÃO faz sentido faze-lo todas as semanas! Excepto em casos concretos, como em caso de doença, é inútil pesar o bebé todas as semanas. Muitas mães pesam o seu filho no centro de saúde ou na farmácia, chegam mesmo a alugar ou comprar balanças! O peso aumenta depois de dar de mamar e diminui ao defecar e urinar, as variações de peso são grandes, é impossível avaliar o resultado.


Que mal pode fazer pesar um bebé?
- Cria angustia familiar
- Falsos diagnósticos
- Abandono da amamentação
- Introdução precoce de alimentos complementares
- Administração desnecessária de vitaminas

O bebé não deve de ser pesado mais que 1 vez por mês ou 1 vez em cada 2 meses no segundo semestre. E muito cuidado com a interpretação das curvas de crescimento dos boletins de saúde! 

 

Ler mais aqui:

http://www.publico.pt/sociedade/noticia/portugal-vai-adoptar-novas-curvas-de-crescimento-para-bebes-e-criancas-1566206

Fonte: Catarina Pardal

Ocupa-te, não te PREocupes...


"Muitos de nós não estão a viver os seus sonhos
porque vivem os seus medos"

Leslie C. Brown 
 
FOTO
FONTE:
 http://gravidasemforma.blogspot.pt/2012/10/muitos-de-nos-nao-estao-viver-os-seus.html

Riscos da Epidural

 http://www.destak.pt/artigo/142970-como-podem-as-gravidas-assumir-o-controlo-do-parto

«(...) havendo uma forma de passar o trabalho de parto tranquila, sem dor e descontraída, eu optaria sem dúvida por essa e actualmente é a epidural que melhor se adapta a esta caracterização», diz Marcela Forjaz - obstetra, autora do livro "Parto Feliz" um livro que, explica ao Destak, tenta levar as grávidas a compreender «que podem manter o controlo sobre a evolução do seu trabalho de parto».

Catarina Pardal responde com dados que investigou...


SOBRE A SEGURANÇA DO PARTO EM CASA

22 grandes estudos observacionais que compararam os desfechos maternos e perinatais de partos extra-hospitalares (domiciliares ou em casas de parto) assistidos por parteiras (modelo não médico) com partos intra-hospitalares assistidos por médicos. A conclusão dessa revisão sistemática é que mulheres de baixo risco atendidas em casas de parto ou domicílio por parteiras certificadas passam por menor número de intervenções obstétricas e têm mais chance de ter partos normais do que mulheres de baixo risco com o atendimento obstétrico padrão hospitalar. Nenhuma diferença na mortalidade perinatal foi encontrada.

McIntyre MJ. Safety of non-medically led primary maternity care models: a critical review of the international literature. Aust Health Rev 2012 May; 36 (2): 140-7. [cited 2012 Jul 29] Available from: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22624633

SOBRE A EPIDURAL

A epidural cria uma separação entre a mulher e o seu corpo no momento em que ela mais tem necessidade de saber, e sobretudo sentir, o que está a acontecer. A mãe fica imobilizada, deitada numa cama durante todo o trabalho, sem a possibilidade de seguir as suas sensações - que praticamente deixam de existir. Obedece às ordens do médico e sujeita-se às suas intervenções. A parte superior do corpo assiste, impotente e submissa, à intervenção médica efectuada na parte inferior. Incapaz de participar, a mulher fica condenada a fazer o que lhe mandam, enquanto o bebé, tem de enfrentar sozinho as contracções. "A mãe é forçada a abandoná-lo em plena tormenta, não seguem juntos o mesmo percurso."

A taxa de mortalidade materna para mulheres em trabalho de partos normais que optam pela epidural é três vezes superior que para as mulheres em trabalhos de partos normais sem epidural. Em cada 500 epidurais administradas haverá um caso de paralisia temporária da mulher e de paralisia permanente em cada meio milhão de epidurais. A mulher tem entre 15 e 20% de hipótese de ter febre após ter levado a epidural, necessitando de avaliação diagnostica de possíveis infecções na mulher e no bebé, as quais podem por vezes ser invasivas, tal como uma punção lombar no bebé. Entre 15 e 35% das mulheres que levam a epidural virão a sofrer de problemas de retenção urinária depois do parto.

Cerca de 10% das anestesias epidural não funcionam e não há alívio da dor. Mesmo quando funciona, perto de um terço das mulheres que recebem a epidural trocam poucas horas de ausência de dor no trabalho de parto por dias ou semanas de dor depois do parto. 30 a 40% das mulheres que recebem a epidural durante o trabalho de parto terão fortes dores de costas depois do parto e 20% continuarão a ter um ano depois.

Muitos estudos científicos têm mostrado que as mulheres que levam a epidural para as dores de parto terão um período expulsivo consideravelmente mais longo. O que, por sua vez, resulta num risco quatro vezes superior relativamente ao recurso a fórceps ou ventosa e, no mínimo duas vezes maior de cesariana, e estas intervenções médicas durante o parto também levam aos seus próprios riscos. 

Enquanto muitas mulheres podem de livre vontade correr riscos para com elas próprias, não é razoável que de livre vontade coloquem os seus bebés em risco. Uma complicação frequente na mulher, depois da epidural iniciar o seu efeito é a súbita queda de pressão, originando uma redução da corrente sanguínea que vai através da placenta ao feto, resultando de uma suave a severa falta de oxigénio para o feto, como pode ser visto no monitor dos batimentos cardíacos fetais.

Noutra estratégia tipicamente “hich-tech” de uso de uma segunda intervenção de forma a remediar os efeitos da primeira, os técnicos de saúde administram na mulher uma grande dose de líquidos via intravenosa, de forma a tentarem prevenir a queda de pressão arterial causada pela epidural, mas isto nem sempre resulta. Na falta de oxigénio para o bebé durante a epidural recai a possibilidade, e o Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia informa que a monitorização cardíaca fetal mostra severa hipoxia fetal de 8 a 12 por cento dos bebés cujas mães foi dada a epidural para as dores normais de parto. Há outros riscos para o bebé, alguns dados, inclusive sugerem função neurológica reduzida até um mês de idade dos bebés. A mais recente inovação na anestesia epidural, como a mudança do tipo de fármaco usado ou a quantidade, ou a “walking epidural” (epidural que possibilita o movimento) não eliminam estes riscos nem para a mulher, nem para o bebé.

Para saberem mais sobre epidural podem ler o artigo traduzido pela Bionascimento - Os Riscos Ocultos das Epidurais
http://www.bionascimento.com/index.php?option=com_content&task=view&id=191&Itemid=0

O melhor plano para encarar a dor é senti-la como uma aliada no processo de fazer nascer o bebé. Acreditar que ela tem uma função fisiológica e tentar dar à luz num ambiente propício: sem imposições de terceiros, sem stress e sem intervenções desnecessárias. E confiar na Natureza. Se a dor de parto fosse realmente impossível de suportar, há muito que a Humanidade se tinha extinguido... ASSIM SIM AS GRÁVIDAS PODEM ASSUMIR O CONTROLO DO SEU PARTO.

Sobre as costas, é a postura menos indicada para parir

Mestre Medo

O medo pode ser utilizado para teres consciência de que procuras proteger-te.
Está lá para te lembrar que a verdadeira protecção está dentro de ti.


Fonte: Parir em Paz

Mamiferizar o parto

Uma vez uma parteira, vendo um parto domiciliar que não evoluía, chamou Odent e pediu-lhe que ele fizesse a sua parte. Então ele fez. Chamou o marido para fora do quarto, levou-o para a cozinha, onde ficaram a tomar chá. Para Michel Odent, fazer a parte do médico é ir para um lugar à parte, acalmar o marido e deixar as coisas com as mulheres. Cumprindo a etimologia do nome Obstetra, palavra que deriva de obstar – estar ao lado.

Michel Odent, parteiro francês, residente em Londres, e que assiste partos desde 1953, em maternidades, hospitais e domicílios, fez uma palestra de abertura no Seminário BH Pelo Parto Normal, na Associação Médica de Minas Gerais, em 2008. Este é um excerto dessa palestra.


"A ocitocina é uma hormona chave no processo de nascimento, mas a ocitocina é especial quando consideramos a condição para a sua libertação, porque depende de fatores ambientais para a sua libertação. A ocitocina é uma hormona tímida.

Todos os mamíferos têm uma estratégia de não serem observados no momento do parto. Se prejudicar o processo de nascimento de um mamífero não-humano, o efeito é que a mãe não cuida do recém-nascido. No ser humano é mais complexo, pois tudo é diluído pelo meio cultural.

Parece que houve uma fase na história da humanidade em que as mulheres se separavam do grupo na hora do parto e isolavam-se na Natureza. Parece, entretanto, que em todas as sociedades em que as mulheres se separavam do grupo para dar à luz, elas não ficavam muito longe das suas mães ou de uma mulher com experiência que as protegiam. Essa, provavelmente, é a origem da parteira e a ocitocina aceita aparecer na sua presença.

Segundo Odent, depois dessas épocas primitivas, ocorreu uma socialização maior do parto e a parteira passou a fazer parte do cenário do parto que transmitia crenças e rituais, funcionando como uma guia e dizendo à mulher o que precisava ser feito. Depois, as mulheres passaram a ter partos domiciliares.

Em meados do século XX surgiu algo novo: teorias consideradas científicas dizem que as mulheres precisam ser recondicionadas e ensinadas como dar à luz, como respirar, como fazer força, o que levou à introdução de pessoas adicionais à cena do nascimento.

Mas houve um novo passo na metade do século XX, que foi a masculinização da cena do parto. Além de cada vez mais médicos se especializarem em obstetrícia, subitamente, na década de 70, havia uma nova doutrina do pai participando no processo de parto. Também foi o momento em que as máquinas eletrónicas e a alta tecncologia foram introduzidas na cena do parto. Ou seja, o ambiente do nascimento se tornou altamente masculino, o que foi um outro passo nesse processo de socialização do parto.

Recentemente, há ainda uma nova fase: o parto dito natural porque a mulher está de novo em casa, na banheira ou está de cócoras, mas rodeada de 3 ou 4 pessoas, o que faz com que o ambiente não seja assim tão natural quanto isso, porque esqueceram o que era importante: que a ocitocina é uma hormona tímida, não só no parto mas também imediatamente após o nascimento do bebé.

1 - A ocitocina é a hormona do amor e é importante perceber que é neste momento que a mãe tem a capacidade de libertar os níveis mais altos de ocitocina, mais do que durante o parto, mais do que durante o orgasmo...Este pico de ocitocina é necessário para que haja um pós-parto sem sangramento.

Hoje, este pico é praticamente impossível de acontecer porque as condições para ele possa ocorrer são o contato pele-a-pele com o bebé, que ambos se possam olhar nos seus olhos, sentir os seus cheiros, sem qualquer distração. Da mesma forma, o bebé procura quase imediatamente após o parto o colostro, mas para achá-lo precisa estar nos braços da mãe e não ser separado dela.

2 - Quando nós, os mamíferos, libertamos adrenalina, não conseguimos libertar ocitocina. A adrenalina é a hormona da emergência, quando os mamíferos estão assustados, com frio ou com medo. Ou seja, no parto a mulher precisa sentir-se segura, confortável, sem se sentir observada; senão liberta adrenalina e não consegue libertar ocitocina. E o trabalho de parto atrasa-se ou chega mesmo a parar.

3 - Os seres humanos têm mais propensão para partos difíceis, em comparação com outros mamíferos e outros primatas. Uma das razões da dificuldade humana no período do trabalho de parto advém do nosso grande neo-córtex, porque durante o processo de parto ou de uma experiência sexual, as inibições vêm daqui.

Se olharmos para uma mulher em trabalho de parto do ponto de vista fisiológico, nós vamos ver que a parte primitiva do cérebro, uma estrutura arcaica chamada hipotálamo é a mais ativa durante esta fase. O fluxo de hormonas que a mulher tem que libertar para o trabalho de parto vem desta parte profunda e primitiva do cérebro. Ao mesmo tempo, vamos conseguir visualizar as inibições vindas do neo-córtex. Mas a natureza achou uma solução para superar esta deficiência: durante o parto, o neo-córtex tem de parar de funcionar. O nascimento é um processo primitivo e durante este processo o neo-córtex deve estar desligado.

Quando a mulher está em trabalho de parto sozinha, ela desconecta-se do nosso mundo e esquece o que está a acontecer à sua volta. O seu comportamento pode, inclusivé, ser considerado inaceitável para uma mulher “civilizada”: ela grita, é pouco polida, assume diferentes posições. Ela fica noutro planeta. Isso significa que o neo-córtex reduziu a sua atividade, o que é essencial para a fisiologia do parto.

Uma mulher em trabalho de parto precisa, em primeiro lugar, de ser protegida contra qualquer estímulo do neo-córtex. Na prática, isso significa que temos que nos lembrar quais são os estimulantes do neo-córtex para evitá-los.

Um destes estimulantes é a linguagem, que é processada no neo-córtex. Se utilizarmos a perspectiva fisiológica, vamos reconhecer que é preciso cautela para usar a linguagem durante o trabalho de parto e vamos redescobrir o silêncio e a importância da privacidade.

O neo-córtex também é estimulado pela luz e é muito sensível ao estímulo visual em geral. É interessante observar como uma mulher em trabalho de parto quando não é guiada, geralmente encontra por conta própria uma posição tal, na qual ela elimina os estímulos visuais para não ver nada e poder esquecer o resto do mundo.

4 - Para podermos redescobrir e atender às necessidades da mulher em trabalho de parto e do recém-nascido devemos aprender a eliminar tudo o que é especificamente humano e todas as crenças e rituais que interferem com o processo de nascimento.

Ao mesmo tempo, temos que redescobrir, atender e satisfazer as necessidades universais que todos os mamíferos em trabalho de parto têm, que é sentir-se seguro – se existe um predador por perto, a fémea liberta adrenalina para ter energia para lutar ou fugir e vai adiar o parto até se sentir segura novamente – e ter privacidade – todas as fémeas de mamíferos têm estratégias para não se sentirem observadas quando dão à luz.

No movimento do parto natural, uma nova teoria surgiu há um tempo atrás, uma ideia de que seria possível, imediatamente após o parto, induzir uma ligação entre o pai e o recém-nascido. Isso é irrealista. A razão pela qual este é um período crítico para a mãe e o bebé está no equilíbrio hormonal especial que nunca mais vai acontecer. E esse período crítico não pode ser o mesmo para o pai. O efeito foi de introduzir outra pessoa que distrai a mãe, no momento exato que ela deve libertar um alto pico de ocitocina...

No contexto científico atual, pode dizer-se que a mulher foi programada para libertar um cocktail de hormonas do amor quando está em trabalho de parto. Mas hoje em dia, a maioria das mulheres têm os seus bebés sem depender da libertação natural dessas hormonas. Muitas porque fazem cesariana e outras, mesmo dando à luz por parto vaginal, por não poderem libertar facilmente as hormonas devido às condições ambientais inapropriadas, precisam de medicamentos que as substituem: é-lhes administrada ocitocina sintética no soro, precisam de eperidural para substituir as endorfinas, precisam de medicamentos para eliminar a placenta. Toda uma série de procedimentos que bloqueiam a libertação dos hormonas naturais.

Estamos numa altura em que o número de mulheres que dão à luz e que eliminam os hormonas naturais do amor tende para zero. Isto é uma situação sem precedentes. Os seres humanos são tão inteligentes e tão espertos, devido aos seus neo-córtex, que conseguiram inutilizar as hormonas do amor. Precisamos questionar-nos sobre isto em termos da nossa civilização.

O que é que vai acontecer daqui a três ou quatro gerações se continuarmos nesta direção? Se fizermos a pergunta dessa forma e percebendo que precisamos redescobrir as necessidades básicas da mulher em trabalho de parto e do bebé recém-nascido e atender às regras básicas e simples, podemos dizer que a prioridade não é humanizar o parto, mas sim, mamiferizar o parto."

Entrevista de Ricardo Jones



Parto humanizado

"Humanizar o nascimento" não significa eliminar a dor (mesmo que isso possa ser buscado) e que NÃO É o mesmo que "analgesia para todos" (mesmo reconhecendo que, em específicas circunstâncias ela pode ser utilizada para o bem de mães e bebês). Humanização do nascimento é muito mais do que isso. Tem a ver com a restituição do protagonismo no parto, assim como a valorização das questões subjetivas das mulheres, entendendo-as como diferentes umas das outras, com distintas necessidades e anseios, medos, angústias e desejos.

Quanto ao parto domiciliar eu acho que se trata de uma discussão primeiramente de direitos humanos reprodutivos e sexuais, e só depois relacionada às questões médicas. Nessa perspectiva, toda a mulher tem o direito de fazer seus filhos onde e com quem quiser e, portanto, deve ter o direito de parir com as mesmas garantias: com quem, onde e com a ajuda de quem ela escolher.

Somente depois de garantidas estas prerrogativas, que para mim são direitos humanos básicos e fundamentais, é que poderemos discutir a segurança do parto domiciliar, e para isso existem toneladas de evidências atualizadas sobre a questão, deixando clara a segurança do parto em domicílio quando realizado por equipe capacitada e aparelhada e quando o parto é de risco habitual (baixo risco).

Desta forma, o parto domiciliar só pode ser debatido se estiver ancorado nesses dois pilares: direitos humanos e assistência profissional adequada. Ambos são essenciais para a compreensão dos dilemas relacionados ao local de parto.

A escolha por um parto domiciliar é muito pessoal, e existe um consenso hoje em dia entre os parteiros urbanos no Brasil: somente serão atendidos partos domiciliares de pacientes absolutamente informados e convencidos da adequação de suas escolhas. Não há lugar para dúvidas ou inseguranças. Além disso, a gravidez não permite qualquer tipo de problema detectado no pré-natal. Isso é: risco muito baixo. Mais ainda: não só a paciente deve ter esse convencimento, mas também o parceiro e a família. Todavia, é forçoso lembrar que o número de partos domiciliares no Brasil, apesar do seu crescimento considerável nos últimos anos e entre as parcelas mais informadas da população, mal ultrapassa os 2%. Por isso mesmo essa é ainda uma questão menor. Muito mais importante é debater a humanização necessária e urgente nos ambientes hospitalares, onde ela será muito mais útil e abrangente.

in Orelhas de Vidro, Ricardo Jones

Brilhar ou refletir


bactérias do bem

  Todo este post foi retirado do blogue de Ricardo Jones, Orelhas de Vidro
"Ao que parece, a ciência está apontando para o grande e maior problema das cesarianas: o fato de não haver colonização imediata do bebê pelas bactérias do canal de parto. A ausência dessas bactérias no momento do parto trazem repercussões para o resto da vida, desde obesidade, doenças auto-imunes, entre outros. A outra linha de pesquisa é para o parto como o evento que liga o sistema hormonal do bebê, no eixo hipotalâmico. Estamos, no Brasil, recebendo uma nação de bebês que virarão adultos com doenças crônicas. O sistema privado já pode começar a contabilizar os lucros."
Eu adiciono:
Aqui em Orlando, há 3 anos passados, tive a oportunidade de conversar com o professor Hanson da Universidade de Gotemburgo - Suécia, a respeito da importância fundamental das bactérias para a adequada proteção do recém-nascido no pós parto imediato (1). Ele ficou fascinado com os vídeos que mostrei de partos na posição de cócoras porque dizia que esta posição facilitava que os bebês fossem adequadamente "contaminados" pelas "entero-bactérias do bem" que vivem no ambiente intestinal materno. A presença dessas bactérias na pele estéril do bebê tão logo ele nasce confere uma especial proteção de microrganismos anaeróbicos que impedem a colonização por bactérias danosas que habitam o ambiente hospitalar (estreptococus,estafilococus, pseudomonas, etc.). Outra razão  para não dar banho no bebê quando ele está no hospital aguardando a alta: manter o "manto protetor" de vérnix, líquido amniótico e bactérias maternas que o envolvem e protegem. Assim sendo, a presença de bactérias maternas é fundamental para proteger o bebê de infecções! Imaginem quanto tempo perdemos acreditando que a suprema esterilização (e os ridículos enemas que realizamos na admissão do hospital) era benéfica para o parto. A presença dessas bactérias na colonização intestinal dos recém-nascidos é importante para o seu desenvolvimento saudável. Para além dessas descobertas, agora sabemos que o leite materno NÃO é estéril, e que contém mais de 700 tipos de bactérias. Como dito acima pela minha colega Ana Cristina, sabemos cada vez mais da importância de um equilíbrio adequado da flora intestinal para a saúde de crianças. Meu colega Andrew Wakefield foi um dos primeiros a mostrar que existe uma conexão impressionante entre as questões intestinais e o desenvolvimento de doenças mentais, como o autismo. A preservação do parto normal e da amamentação, para além das questões fisiológicas, emocionais, psicológicas e clínicas, precisa ser analisada também como a mais completa forma de prevenção de doenças. Negligenciar, como temos feito nas últimas décadas, a sua preponderância como elemento preventivo de enfermidades, apostando na suprema cafonice de endeusar a tecnologia sobre os eventos fisiológicos e naturais, pode ser um passo decisivo em direção à extinção do homo sapiens.
(1) Hanson, L.A. Immunobiology of human milk:  How breasfeeding protects babies. Göteborg: Pharma­soft Publishing, 2004.
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